domingo, 18 de abril de 2010

Por ele

- Promete que você não vai me deixar?! - foi a única coisa que consegui falar naquele momento, e aliás foi o que praticamente tomou vida sozinho em meus lábios. Tentei não chorar e olhei em seu rosto, eu sabia que o que eu pedia à ela era quase que imoral, mas por um momento eu vi em seu rosto uma dúvida, enfim, algo em que eu pudesse manter minhas esperanças.
-Calma, Raphael, vai ficar tudo bem! -meu mundo ruía ali, vendo que ela já conseguia desviar de mim sem nem ao menos olhar em meus olhos, ela se virou e eu pude sentir aquele perfume que tanto gostava, aquele perfume que eu não queria deixar de sentir, aquela pele branca e aqueles olhos vívidos que eu não podia deixar de ver.
- Promete! Por favor! -não conseguia pensar em mais nada. A angústia me invadia e as únicas coisas que conseguia dizer, com as lágrimas caindo e com aqueles soluços eram pequenos pedidos de desculpas. Eu buscava seu olhar, aquele que sempre me passou ternura e compreensão e agora, eu sabia, sentia repulsa do meu.
Voltei minha cabeça ao seu colo, com a sensação de perda, de dor e de que tudo aquilo era minha culpa. Eu já não conseguia mais conter o choro, e foi quando ela passou as mãos em meus cabelos que eu vi que não poderia viver sem ela, sem aquela que durante todo esse tempo me mostrou o que é ter uma pessoa para te apoiar nos momentos bons e ruins, alguém que queira o seu bem, que queira ver você crescer e que mesmo com todos os meus erros estaria sempre ali. Eu não podia deixar ela ir embora, afinal ela já era o meu bem mais precioso, era o sentimento puro do que é querer uma pessoa. Mas eu não tinha forças para lhe falar tudo que sentia e mais uma vez eu só podia pedir perdão.
- Me perdoa, por favor! Não posso viver sem você! - Essa foi a última coisa que eu lembro de falar para ela, antes que eu entrasse em um estado diferente, algo surreal, por um segundo eu juro que podia sentir ela ao meu lado, sentir seu calor, mas sem conseguir me mexer ou falar como se eu não estivesse ali, como se não estivesse vivendo isso, e sim tendo apenas uma lembrança, uma lembrança triste. Tristeza... Acho que essa é a melhor palavra para definir o que eu sentia naquele momento, uma profunda tristeza ao perceber que a dona do meu sentimento mais puro já não podia aguentar ficar ao meu lado, pior do que isso, ela já não queria mais ficar ao meu lado. Naquele momento eu já não sabia se estava sonhando ou se era algo real - e eu é claro desejava que fosse um sonho - e se me perguntassem eu diria que vi uma última imagem dela, daquela garota linda de pele tão branca e cabelos longos indo embora, partindo, partindo o seu coração e o meu junto com o dela, arracando uma dor de dentro de mim e de dentro dela. "Adeus, Rapha". Foi o que ela disse antes de fechar a porta. Foi o que eu lembro ter ouvido antes de sentir, de fato, sua perda.

Por ela

-Promete que você não vai me deixar?! - perguntou-me ele, quase que suplicando, enquanto levantava a cabeça do meu colo, para poder me encarar. Olhar para aqueles olhos cheios de lágrimas fazia meu coração se sentir uma ervilha esmagada. Aqueles olhos que antes me passavam segurança e conforto, mas que agora eu sentia repulsa.
-Calma, Raphael, vai ficar tudo bem! - Eu não conseguia encarar aquele olhar e sabia que o que eu dizia não era verdade, mas precisava, de alguma forma, acalmá-lo naquele momento. Mas ele não se contentou...
- Promete! Por favor! -as palavras saíam de sua boca em meio aos soluços de seu choro. Depois disso foram mais uns dois sussurros de desculpas e eu pensei em levantar, porém quando vi seu pranto novamente, desisti. Eu sempre tive coração mole, mesmo com o causador das minhas mais amargas lágrimas.
Traição... palavra dura, forte. E profunda...
Ele apoiou novamente sua cabeça em meu colo, enquanto eu fazia carinho em seus cabelos. O silêncio tomou conta do quarto e achei que o garoto, que ali parecia tão indefeso, tivesse adormecido em meus braços, mas quase que em um sussurro ele disse:
- Me perdoa, por favor! Não posso viver sem você! - felizmente ele adormeceu de vez, sem que eu precisasse responder à sua súplica. E então, bem devagar, eu me levantei e apoiei a cabeça dele em um travesseiro. Fiquei em pé ao seu lado, o admirando. Como ele era lindo! Vagas lembranças sobre nossa história passaram em minha mente e um vazio invadiu meu coração.
Caminhei até a porta devagar, para evitar fazer qualquer barulho. Com a mão na maçaneta e com os olhos cheios de lágrimas, dei uma última olhada em Raphael, meu amor, minha ilusão, meu sonho e meu pesadelo. - Eu não vou chorar! - pensei, mas antes mesmo de concluir meu pensamento uma lágrima escapou e escorreu pelo o meu rosto; a sequei rapidamente, e assim como entrei naquele quarto pela primeira vez, sem a intenção de sair, sai sem a intenção de voltar. Adeus, Rapha. E fechei a porta.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O garoto dos meus sonhos

Acordei suando novamente. Era a terceira noite seguida que aquele sonho me atormentava. Já estava com medo do que isso poderia ser e decidi anotar em meu diário o ocorrido:
"Estúpido diário...
Já é a terceira vez que tenho o mesmo sonho, ou pesadelo, não sei. Nele, estou numa floresta escura, fugindo de algo que não sei definir muito bem. Por mais que eu corra e tente sair dali, parece insuficiente. Então, de repente, surge um clarão e a única coisa que consigo enxergar é um garoto, ao longe, de cabelos claros e olhos azuis, mascando chiclete e olhando pra mim. Começo a correr em sua direção, mas todo esforço é em vão, como se eu corresse numa esteira infinita. Ele continua me olhando e quando hesita em dizer algo eu acordo."
Depois de escrever, levantei-me da cama ao ouvir meu pai me chamando:
-Poliana, querida, você vai se atrasar! -gritou ele da cozinha.
Me arrumei e saí de casa completamente absorta em pensamentos, tentando entender aqueles sonhos iguais.
Quando cheguei ao colégio estava atrasada e passei mais rápido que o normal pela multidão do pátio. Porém, algo chamou minha atenção: entre os garotos que estavam conversando próximos a uma árvore, um deles me pareceu familiar. Como não vi seu rosto, não foi possível identificá-lo.
Depois disso o resto do dia passou normal e lentamente. À noite, como já era de se esperar, sonhei novamente com a floresta e o garoto. Mas dessa vez ele disse algo pra mim, não com muita clareza, mas entendi dessa forma: "Toda noite eu lhe tiro da escuridão perigosa... agora é sua vez de me salvar." Acordei péssima. Não conseguia ver lógica e significado nisso tudo.
Como de costume, segui meu caminho de casa para o colégio em meu tradicional estado de torpor e o que me fez despertar dele foi aquele mesmo garoto que chamou minha atenção na manhã anterior. Dessa vez parei e o observei. Ele virou e seu olhar encontrou o meu enquanto minha mente gritava: "É ele! É ele! É o garoto dos seus sonhos!!" Ele sorriu, um sorriso caloroso de quem me conhecia há algum tempo. Retribuí o sorriso e fui para a aula com apenas um pensamento: Seu nome? Motivo dos sonhos? Bom, eu ainda não sabia, mas com certeza iria descobrir. :)
 
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